segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tomara

Tomara que os olhos de inverno das circunstâncias mais doídas não sejam capazes de encobrir por muito tempo os nossos olhos de sol. Que toda vez que o nosso coração se resfriar à beça, e a respiração se fizer áspera demais, a gente possa descobrir maneiras para cuidar dele com o carinho todo que ele merece. Que lá no fundo mais fundo do mais fundo abismo nos reste sempre uma brecha qualquer, ínfima, tímida, para ver também um bocadinho de céu.

Tomara que os nossos enganos mais devastadores não nos roubem o entusiasmo para semear de novo. Que a lembrança dos pés feridos quando, valentes, descalçamos os sentimentos, não nos tire a coragem de sentir confiança. Que sempre que doer muito, os cansaços da gente encontrem um lugar de paz para descansar na varanda mais calma da nossa mente. Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor.

Te desejo uma fé enorme. Em qualquer coisa, não importa o quê. Desejo esperanças novinhas em folha, todos os dias.Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de sonho a ideia da alegria.

Tomara que apesar dos apesares todos, dos pesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz.

Caio F. Abreu

terça-feira, 10 de maio de 2011

Carta a mim mesmo.

Sufoque essa tua paranóia. É paranóia. Esse medo estúpido. É reflexo da culpa. Você conhece o mecanismo. Esta se sujeitando a ele novamente?

Acredite na sua força interior. Nesse motor que nunca te deixou na mão. Perceba o universo conspirando a seu favor. Não tenha receio de arriscar. Esse medo é tolo. Devemos ter respeito por alguns limites, para outros devemos ter coragem. Devemos conduzir nossas angustias a algo que nos proporcione um novo ponto de vista. A sede do conhecimento. Você já sabia que muitos iriam virar as costas, mas imaginou que conseguiria manter tantos outros por perto? Imaginou que eles se identificariam com sua luta, com a forma que você joga o jogo, com a maneira que expressa os pensamentos, com a lucidez que lhe permite participar do esquema sem se contaminar com a parte podre de tudo isso?




Reconheça. Conseguiu transcender. Conseguiu sobreviver aos ataques. Foram fortes combates. Alguns de forma desonesta, de maneira covarde. Você continua ai, firme e forte. Consegue manter a cabeça erguida. Olhar os outros nos olhos. Tem seus problemas, suas crenças, seus defeitos, como qualquer outro ser humano. Quantos nesse planeta encararam a batalha e lutaram por seus sonhos? Quantos podem bater no peito e dizer: “Consegui conquistar boa parte do que objetivei na vida”. Quantos?



Você pode. Bata no peito com orgulho e reconheça seu valor interno. A força espiritual que te guiou na escuridão, o contato com o lado escuro da sua alma, que também se fez e se faz necessário porque o mundo não é feito só de luz. Há sombras. Lidar com sua própria maldade, com o lado negativo, com os sentimentos destrutivos é necessário. Quem busca perfeição se ilude. Devemos reconhecer que temos emoções e orientações Malignas, o que não podemos é deixar que elas prevaleçam. Devemos tê-las sob um olhar crítico e não permitir que dominem nossos sentidos.



Faça um exercício íntimo. Feche seus olhos e tente perceber onde chegou. As sementes que plantou, os frutos que colheu. As batalhas que venceu, os aprendizados com as derrotas. Tudo isso é bagagem a ser considerada. Temos que deixar algum rastro para que outras pessoas possam se inspirar. Isso é de fundamental importância na continuidade de idéias que não estão sendo oferecidas ao senso comum. É importante que alguns, mesmo que poucos, possam ter nessa referência na fé de que é Possível sim realizar-se. Que não se deve ter culpa com a felicidade, com o prazer, com a quebra de pequenas regras e com o enfrentamento de paradigmas de atraso.



Não ligue para as ofensas, para os que em sua incompetência não possam oferecer mais do que o desejo do seu fracasso. Faça dessa energia opositora mais um combustível para novos desafios. O risco é necessário. O desconforto é necessário, tira da inércia, modifica a realidade, transforma a percepção. Quanto mais atento e sagaz estiver para identificar motivações e julgar seus impulsos, mais consciente estará de suas capacidades individuais, melhor estará preparado para colaborar com o coletivo.



Estudar sempre. Ler compulsivamente. Ser capaz de se divertir e capaz de descansar. Capaz de dialogar, capaz de amar, de se entregar, de compreender o medo, a paranóia, as limitações daqueles que te amam. Oferecer o que conseguir de melhor aos que te defendem, aos que lutam ao seu lado. Trata-se de lealdade e respeito. Não tem absolutamente nada a ver com os padrões tradicionais e hipócritas. Tem a ver com atitude e consciência.



Deixe a paranóia no lugar dela. Deixe-a fazer o papel de paranóia.

Identifique-a e neutralize com uma respiração profunda.

Quando chegar a hora de partir, terá deixado um legado de coragem aos que lhe seguiram, aos seus filhos e a sua família.



Vá. Faça. Aconteça.



Não se cale.



[Tico Sta Cruz]